Cientistas do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena), da USP, e da empresa Bioagri, desenvolveram uma técnica para tornar estéril o macho do mosquito transmissor da dengue.
O método interfere no ciclo reprodutivo do inseto por meio de um processo radioativo, sem fazer uso de produtos químicos e sem manipulações genéticas.
Desta forma, a técnica pode ser uma alternativa à extremamente controversa liberação de pernilongos transgênicos, que está sendo feita livremente no Brasil, mas que é repudiada no restante do mundo.
Radiação esterilizante
"Usamos uma quantidade de energia que não mata o inseto, mas provoca mudanças em seu sistema biológico", garante o professor Valter Arthur, coordenador da pesquisa.
O ciclo reprodutivo do pernilongo passa por ovo, larva, pupa e adulto, em aproximadamente 14 dias.
A aplicação da radioatividade é feita na fase de pupas, que são irradiadas em uma fonte de Cobalto-60, fazendo com que os machos se transformem em insetos estéreis.
"Eles até copulam, mas não fertilizam as fêmeas, que são as transmissoras do vírus da dengue, ou seja, o ciclo continua completo. Mas, como os ovos não geram nada, conseguiremos baixar significativamente a infestação do mosquito e, consequentemente, o da doença", diz o pesquisador.
Sem transmissão
Os mosquitos vêm sendo criados na unidade da Bioagri, instalada em Charqueada, interior de São Paulo, de onde seguem para o laboratório do Cena, onde recebem a radiação.
"O objetivo da pesquisa é o de reduzir a transmissão da dengue, por meio da liberação no ambiente de mosquitos machos estéreis em grande quantidade, que competirão com os nativos.
"Uma vez copuladas, as fêmeas vão gerar os ovos inférteis, dos quais não eclodirão larvas, e consequentemente ocorrerá uma diminuição da população de transmissores da dengue", finalizou professor Valter.